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Olhai os Lírios Queimados do Campo - O grande erro do Papa: pressa.

Foto do escritor: Luís PeazêLuís Peazê

Atualizado: 10 de ago. de 2023


O Sr. Jorge Mario Bergolio é simpático e carismático, mas a importânia que a Igreja Católica conquistou e mantém para a figura do Papa, neste caso o Francisco, não justifica carregar debaixo do solidéu branco apenas simpatia e carisma. Os fiéis, e porque não os não fiéis também, precisam de mais cuidado com as palavras de incentivo. Porque afinal, dos quatro dias de visita a Lisboa, o que ficou impresso nas paredes mentais de Portugal, com sotaque argentino-romano, foram apenas palavras, um passeio de Toyota e não muito mais que isso.

Um parágrafo ácido para iniciar o resumo do que foram os 10 dias de JMJ 2023 em Lisboa, e culpemos talvez os incêndios de norte a sul em Portugal, que me impactaram mais do que o calor de circular freneticamente pela cidade ouvindo de perto as conversas dos Bispos e Cardeais por todo lado. Como eles comem, como eles bebem, como eles riem por qualquer brincadeira até as sem graça. Como tudo parece estar indo bem, na Igreja.

- É uma cidade grande, lá é tudo grande. Temos tantas paróquias, temos tantos fiéis... Este é um dos meus secretários diretos, ele é padre em uma das paróquias, quando não está me auxiliando; tenho três assistentes, mas eu pedi mais um para o Santo Papa – disse sorridente para mais três cardeais de outros países, numa rodinha no lobby do hotel Jupiter, um prelado brasileiro da Igreja Católica, Arcebispo, nomeado Cardeal pelo Papa em 2022. E eu colecionei de ouvido muitas outras frases perdidas nos corrredores, nas salas de refeições dos hotéis, nos vários locais de eventos paralelos da JMJ 2023, enquanto os "jovens" se divertiam pela cidade afora, extraviados pelo chão do Parque Tejo, jogados em algumas vias do Metro, no Parque da Alegria em frente ao Mosteiro dos Jerônimos, por toda a cidade. Que festa, que festa. Não sei se eu fui "jovem" algum dia e teria sido capaz de vivenciar tanta festa movida a "tic-toc". - A propósito, a sonoridade fonética desta droga chinesa tem um erro silábico, deveria soar como uma bomba relógio... Vejamos:


Há 33 anos, portanto antes da Internet e da WWW, ao lançar uma marca francesa famosa de água, no Brasil, eu era Diretor da Conta Publicitária e deveria conduzir uma pesquisa de mercado que envolvia “percepção” do produto “água” e “comportamento do consumidor diante de gôndolas de supermercados”, uma coisa deveria auxiliar a outra na criação da campanha publicitária. Utilizávamos métodos variados de pesquisa e de estatística e adicionamos outras técnicas. Inspirados em estudiosos pregressos, que tentaram, testaram, erraram e acertaram… Experiências como essa permitem desenvolver a capacidade de observação e análise de massa crítica relacionada com pessoas. Comportamento, em síntese. Mas, como eu era tão “jovem” quanto a maioria dos “jovens” da JMJ2023, me aventurei a querer perceber o inconsciente coletivo, ir além.


Pois eu me senti retrógrado, nesta JMJ2023 em Lisboa, voltei ao tempo e exerci aquela insanidade de analisar a massa, olhando, observando, metendo o bedelho aonde não estava sendo chamado. E o resumo que eu faço, e a razão da crítica à mensagem do Papa Francisco se prende ao fato de que “percebi” a massa crítica de pessoas neste evento fabulosamente destacado como grandioso em Lisboa, mas nem por isso maior do que um réveillon ou carnaval no Rio de Janeiro, respondendo teleguiadamente da seguinte forma: o inconsciente coletivo está vivendo o “impulso intuitivo dos aplicativos virtuais” e, no mundo real, em situações reais de relacionamento interpessoal respondem de modo similar, intuindo, segundo àquela lógica binariana, do algoritmo, pré-fabricada segundo a vulgarmente chamada Inteligência Artificial.


Duas frases soltas: o Papa visitou Lisboa e Fátima no mesmo "token" em que havia a JMJ 2023; os Jovens em Mundial Jornada chegaram perto do Papa e podiam vê-lo num enorme telão, "ecrã", de um imenso smartphone ao ar livre.


Ironicamente, um dos locais de eventos da JMJ2023, foi a AESE Business School, em Lisboa, com enorme intimidade estrutural e jurídica com a Igreja Católica e, segundo seu perfil publicamente publicitado se orgulha de basear seu método de formação em “estudos de caso”, deixando em segundo plano, ou ignorando talvez, os demais métodos que o “sistema”, a sociedade, “o mundo, pelo amor de Deus”, ainda opera.


Estamos entrando numa era retroativa ao geocentrismo, entretanto não em relação ao eixo da Terra, mas ao eixo da “nova versão” em curso. Uma espécie de “fractalização negativa”, assunto para outra crônica. Não há mais lugar para uma formação sequer holística, quiçá comportamental baseada em princípios adquiridos gradualmente, paulatinamente, de geração em geração no seio nuclear da família (família? O que é isso Companheiro?), pois os primeiros imediatos “pais” ainda são eles mesmos “jovens” de 33, 43 e mesmo os de 53 infectados igualmente pelo “tic-toc”, de um jeito ou de outro. O Papa não percebeu isso, do contrário teria escolhido talvez a metáfora dos “vendilhões do templo” e a mensagem teria sido “foco” ao invés de “pressa”; aí sim, foco sem medo para buscar os sonhos, a melhor receita.


O resto são os lírios do campo amassados, pisoteados, ou queimados nos tantos incêndios negligentes, todos os anos…





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Luís Peazê: Escritor, Jornalista, Tradutor

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