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Foto do escritorLuís Peazê

O Perigo de Washington e a prostituição das índias em Crissiumal.


Sem querer tirar a azeitona da empadinha de ninguém, muito menos trazer à tona gratuitamente traços negativos que permeiem um ser humano recém falecido, notoriedade pública internacional, eu hein; mas, talvez pela minha impaciência em plena faina de mudança, mudança mesmo, caixas, coisas, roupas, bagulhadas, me ocorre mostrar o outro lado da moeda e parei pra escrever; que todas as frases e “slogans” (reclames, chamadas) cunhadas por Washington não passaram de um oliveto (olival em italiano) para ganhar dinheiro, isto é, colocar azeitona na empadinha dos clientes, e é aqui que mora o perigo. Nota: após ler um livro sobre o Corinthians, para cujo autor deu entrevista e conteúdo, Olivetto escreveu-lhe elogiando mas corrigindo: - naquela história do restaurante não é coxinha, é empadinha.


Mas, antes de mais nada, WO, descanse em paz e, ainda em trânsito para sabe-se lá onde, o céu, o além, ria das críticas de p à z, que ninguém vai ler. Quer dizer, perdi de WO; na gíria antiga do futebol de várzea, quando o time adversário não comparecia pra jogar, o outro ganhava “without opponent”…


P de publicidade, propaganda, uma área profissional que me foi muito cara (estimada e dispendiosa); primeiro no sentido aprazível (prezada), janela para a realização de sonhos, limítrofe da realização pessoal com o “backstage” de glamour rarefeito; desejei e ganhei, toma na cara (fuça), ajoelhou tem rezar; em segundo lugar (dolorosa para o bolso de valores e princípios), logo ao ser finalmente contratado por uma agência de publicidade, a tal área se despe ilusória diante de mim (no início eu gozei, mas fui aos poucos ficando envergonhado), como os falsos magos, sedutores de virgens ingênuas, pronto, uma vez deflorado a gente nunca mais esquece (como o primeiro soutien?). Há (existem), é verdade, as prodígias vítimas que o tempo e as gerações se lhes enterram as dolorosas memórias, mas isso é outra história, e deixo um exemplo aqui antes de prosseguir a minha acidez: ao pesquisar sobre o universo Guarani, para uma campanha de apoio a este povo esquecido (campanha a qual ganhei apoio zero até de familiares e amigos, e a cancelei após dois meses, diga-se de passagem), foi inevitável fazer um paralelo com uma descendente indígena, de Crissiumal, cidade fronteiriça do Brasil e Argentina, bandas das Missiones. Calcule comigo nobre leitor (comum de gênero): ela teve três filhos em três anos, nenhum conhece o pai; hoje em dia vive em São Paulo, sorridente graças a Deus, frequenta restaurantes, bares, praias, viaja de avião, enfim, leva uma vida de classe social (alô Bourdieu) bem acima das suas origens. Um dos filhos é “dez para as duas”, desculpe, explico mais adiante, e raspa-se todo, é, depila-se, desenha o bigode, o cabelo, é capaz de cruzar o Atlântico até Lisboa para a estadia de uma semana e lá frequentar uma academia de ginástica para “não perder a forma”. Ora, se eu tenho o exemplo em detalhes, não vejo porque não detalhar um pouco… E agora sim, cravar o punhal:


Z de z mesmo e de Zillennials, ou, na minha forma de ver “dez pras duas”, os atores sociais do momento, nascidos entre o final dos 90 e a partir de 2010; eles caminham com um dos pezinhos apontando para “faltando dez minutos” no relógio analógico, o outro pezinho apontando para as “duas horas” no relógio. Suas mãos tem dedos fininhos, molengos, frágeis, não sabem empunhar uma enxada, alguns deixam os sapatos fora do próprio banheiro, com medo do “virus de bruço”, e tem hábitos miscigenados que vão desde uma cultura herdada ao avesso (são contrários por serem contrários e pronto) da geração pater-mater-nal dos “ baby boomers”, na qual este pobre autor se inclui. Essas tribos Z e Zillennial geralmente nascem com a geladeria cheia e a conta de luz paga, não vivem sem um Wi-Fi e a maioria sofre de nomephobia (no message phobia), isto é, não conseguem deixar de responder uma mensagem (o fazem no meio da travessia de rua movimentada, digitar, clicar, lacrar) ou ficam tristes se não receberem resposta as suas mensagens; por fim, sentem um prazer quase sexual quando atingem um milhão de cliques; uns se vestem Elmo-punk-dark-gótico-funk-barroco-harrypotter, outros se vestem de qualquer jeito. Todos são tatuados.


Vou pisar num lugar comum, porque já pisei-o muitas vezes, coisas da crítica peazê, enquanto a famigerada imprensa lista frases e slogans famosos de Washington: quando Henry Ford sugeriu que as fábricas deveriam operar em turnos de oito horas, por cinco dias, era na verdade para deixar o operário, proletariado, a mais valia, descansar e ter tempo para consumir; do contrário, quem iria comprar o que as fábricas fabricavam? Taylor e Fayol contribuiram com o restante (foi ali que nasceu o monstro vestido de “hierarquia na administração de empresas”, um colar da “arte sobre as correias” e anéis da “organização e métodos”), faltava apenas construir um computador (inventado durante a II Grande Guerra para decifrar códigos nazistas) e só então ser possível a utilização plena do Wi-Fi que foi descoberto por uma mulher lá naquela época do alemão mau de bigodinho igual ao do Chaplin.

“Bottom line”, ah, então o leitor não assiste Neflix? Não sabe o que é “resultado”, “resumindo”, essa expressão em inglês que quer dizer um monte de coisas, além de ser um termo da contabilidade antiga, das contra-partidas?


Então, bottom line: compramos muita bobagem, estamos educados para comprar bobagens (com a desculpa que a economia “forte” gera empregos e riqueza – ah, ah, ah, ah, kkkk, rsrsrs, lol), fomos viciados por publicitários geniais, crianças que foram contratadas para inventar frases de efeito para provocar impulso; comprar, tem a pessoa que não consegue passar um único dia sem pensar nesta palavra, ou praticá-la; improvisar, criar, fazer uma vassoura com macega? Nem pensar.


Era apenas uma questão de tempo para a bomba relógio explodir. Booom! Não sabemos fazer mais nada com as mãos, apenas com o polegar que roubou a cena do dedo indicador subvertendo até mesmo e inteligência ergonométrica e sinestésica eregida através de milênios quando deixamos de caminhar com os quatro membros, ficamos em pé, nos tornamos racionais e, boom, quando eu pensava que iríamos sair da caverna, corromper o mito, caímos de quatro novamente. Para as frasezinhas de efeito, memes, “influencers”, e algoritmos disfarçados do lobinho IA.   


Post scriptum: uma leitora fez inúmeras correções de ortografia no meu texto. Saravá!

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jp.lecrec
há 3 dias
Rated 5 out of 5 stars.

Wow!

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