... ENQUANTO PRÓXIMO DE CIRENE MORREM MIGRANTES DE DOR, OU SÃO DEVOLVIDOS PARA A LÍBIA SEM DÓ.
No Dia Mundial de Conservação da Natureza, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou resolução que declara ambiente saudável como direito humano. Esta foi a manchete do release recebido em oPONTO NEWS – H2BLUE esta manhã.
A votação, nesta quinta-feira, recebeu 161 votos a favor e oito abstenções: Belarus, China, Camboja, Etiópia, Irã, Quirquistão, Rússia e Síria.
A decisão incentiva os países a implementar seus compromissos internacionais e aumentar esforços para realizá-los. O documento enfatiza ainda que todos sofrerão os efeitos agravados das crises ambientais, se não cooperarem agora para evitá-los.
A teoria filosófica do hedonismo nasceu em Cirene, foi mal interpretada e viajou pelo tempo com o seu genuino significado deturpado. Mas estamos a salvo, finalmente. A ONU, isto é, quase todos os membros das Nações Unidas concordam que o prazer deve vencer a dor, como objetivo de vida. Mas neste momento o leitor talvez tenha confundido o real significado de prazer, que alcançou de facto domínios diversos e é melhor utilizarmos outro sintagma para descrever o que realmente vale à pena cada um de nós buscar na vida. De uma coisa todos concordamos, sofrer não é a melhor opção.
O mundo nunca sofreu tanto de um modo generalizado como nestes tempos, mas finalmente a ONU decidiu “incentivar os Estados membros a cumprirem compromissos internacionais ambientais, de sustentabilidade, e impulsionar esforços” – declara o documento – Resolução 76/300. O que mais a ONU poderia fazer, pedir?
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ser uma “resolução histórica” e realçou que o documento demonstra que os Estados-membros podem se unir na luta coletiva contra a tripla crise planetária de mudança climática, perda de biodiversidade e poluição. Ainda, “…que a decisão ajudará a reduzir as injustiças ambientais, cobrir as lacunas de proteção e capacitar as pessoas, especialmente aquelas em vulnerabilidade, incluindo defensores de direitos humanos ambientais, crianças, jovens, mulheres e povos indígenas.”
Concorre com esta notícia global uma profusão de manchetes de incentivo a “empreendedores e inovadores”, difundidas nas redes sociais virtuais por instituições financeiras e associativas nos âmbitos de governos e setoriais, que exploram as palavras tecnologia limpa, ou verde, e cresce o uso das expressões “economia do mar”, “azul” e inclusive “justiça azul” referindo às questões de declínio da biodiversidade, empobrecimento das comunidades locais e indígenas e a dramática realidade da massa oceânica que banha 70% da superfície do planeta, que concorre reciprocamente, por sua vez, com o aquecimento global e todas as suas consequências para a vida, de humanos, a fauna e a flora.
Enquanto isso, no ambiente social nunca foi tão fácil o acesso à informação, consequentemente nunca foi tão fácil “ensinar e aprender”, descobrir. Não é pouco.
Mais ainda, nunca foi tão fácil, para o indivíduo de qualquer idade acima de 15 anos escolher modos de vida, comportamento, ideologias e dizer sim ou não para tudo o que quer. A tecnologia informacional nos permite encontrar amigos e fazer novas amizades do outro lado da Terra, sem irmos lá e vice-versa. A conectividade ultrapassou a barreira da ponta dos dedos, chegou ao momento enquanto o organismo silencia algumas funções e dormimos. O paradoxal é que, em grupo, estamos perdendo exatamente essas facilidades, pois não sabemos mais decidir se é a maioria ou as minorias a serem privilegiadas com o “bem comum” e “direito comum” umas em relação às outras, se houver divergência… Vários conceitos de ética e moral, estética e comportamentais eclodiram para fora de um possível fractal perfeito onde a menor porção atômica estaria idêntica ao todo em equilíbrio.
(Imagem de uma "dia normal" na Líbia, em matéria do Diário de Notícias, Lisboa © Ibrahim CHALHOUB / AFP - 130 migrantes morrem afogados no Mediterrâneo tentando fugir da guerra; outras dezenas, na mesma semana, são presos tentando fugir e são repatriados para a Líbia, Cirene)
Isto não é um convite ao ceticismo, pois ao lado do bloco de notícias em oPONTO NEWS H2BLUE, consultamos os índices trimestrais de preços e outros publicados pelo INE – Instituto de Nacional de Estátistica, de Portugal , e Estatísticas da Área do Euro, para não irmos muito longe. Os preços de alimento, habitação e energia aumentaram.
Num cálculo simplório, dois números um traço e o resultado embaixo: se uma pessoa gastava no ano passado, em Portugal, 300 euros para se alimentar no mês, significava 10 euros por dia; com o aumento do índice de preços, apenas para alimentação, em torno de 6%, esta pessoa ficaria um dia e meio sem comer, se tivesse apenas os mesmos 300 euros para esta despesa corrente. A energia e outros índices de aumento foram maiores.
Está claro que a vontade – movida por qualquer que seja a teoria hedonista do presente – seja o prazer pelo poder, status, riqueza, vontade de ganhar mais, custe o que custar é o grande motor do nosso maior problema: ganho em escala irresponsável que estimula o consumo irresponsável. Em seguida vem a indisposição para resolver problemas além de nossos próprios desejos íntimos…
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