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Foto do escritorLuís Peazê

Guerra da lagosta França e Brasil - O Brasil não é um País Sério - Dia do Oceanógrafo


Hoje, 31 de julho, celebra-se a data em que a profissão de Oceanógrafo foi legalizada no Brasil, em 2008, e a faculdade de oceanografia foi reconhecida oficialmente pelo Ministério da Educação. A efeméride traz à tona um episódio histórico interessante, e oportuno:


Brasil e França entraram em guerra por causa da pesca ilegal da lagosta, na costa brasileira pelos franceses, em 1961. Era o nascimento de uma categoria acadêmica que se tornaria também profissão somente em 31 de julho de 2008. Este observador foi um dos que contribuíram para a luta do oceanógrafo Fernando Diehl, fundador e presidente da Associação Brasileira de Oceanografia.


A pendenga ficou restrita à apreensão pela Marinha Brasileira, de dois barcos franceses, apenas, e depois liberados, e a guerra de verdade foi até cômica, por conta da sensibilidade do representante diplomático brasileiro à época, o Almirante Paulo Moreira, precursor da Oceanografia no Brasil.

Luís Peazê, Fernando Diehl e Oswaldo Ribeiro Jr. Congresso Oceanografia em Vitória, 2005.


Não é lenda, mas poderia ser, foi no início da década de 1960, pescadores da costa francesa da Bretanha, começaram um namoro com as lagostas da costa do Nordeste brasileiro. Uma delegação foi enviada a Recife para negociar a vinda de barcos de pesca com o intuito de realizar pesquisas sobre viveiros de lagosta. Estilo malandro francês. Ingenuamente o Brasil deu autorização de pesquisa, em em março 1961, válida por 180 dias, para apenas três embarcações.


No entanto, representantes da Marinha Brasileira embarcaram nos pesqueiros franceses, como fiscais, e constataram que a pesca era em larga escala e predatória, com arrasto e com maior número de barcos. - Vai tomar no ... Começou a guerra. De palavras, pois ficou apenas no âmbito diplomático.


O Brasil sustentava a tese de que a lagosta era recurso econômico de sua plataforma continental, cabendo somente aos brasileiros a emissão de autorização de captura do crustáceo. A França contestou o posicionamento brasileiro baseando-se na convenção de Genebra de 1958, que estabelecia as bases para pesca em alto mar. Mas nem o Brasil nem a França haviam assinado a tal convenção.


- Porra! E agora?


“LE BRÉSIL N’EST PAS UN PAYS SERIEUX”

(O BRASIL NÃO É UM PAÍS SÉRIO) Charles De Gaulle


Na altura dos acontecimentos, risco de um conflito com tiros e bombas, na costa brasileira, o presidente do Brasil, João Goulart, liberou uma autorização estendida para captura da lagosta pelos franceses, mas, a opinião pública e pressões políticas nordestinas, fizeram com que João Goulart cancelasse a autorização. Em Paris, puto da vida, Charles de Gaulle cunhou uma frase que mancharia a imagem do país tropical bonito por natureza por muito tempo. Embora na Irlanda, o mordaz Bernard Shaw cunhava outra frase mais apreciável e duradoura: "não acredite em ninguém que seja muito sério o tempo todo". Shaw pelo menos tinha uma vida humana mais rica, pois, tendo o pai alcoólotra e perdulário, estudou sozinho visitando a Biblioteca do Museu Britânico e competia com intelectuais com nomes como Dickens e e escrevia peças de teatro (de protesto) no meio de nomes como Oscar Wilde, cujo pai médico famoso tentou sem êxito curar o pai de Shaw, apelidado de O Estrábico. Mas isso é outra história, ou a história do gênero Crônica, deste autor que escreve (CRÔNICO - A História do Gênero Crônica).


Voltando às Lagostas, contra-argumentando os franceses em Paris, e ridicularizando Charles De Gaulle, o Almt. Paulo Moreira respondeu na reunião de diplomatas: - os senhores franceses dizem que a lagosta pula e se movimenta entre águas sem limites como todos os peixes, e por isso não se classifica como recurso econômico da plataforma continental brasileira; ora, se lagosta é peixe, canguru é pássaro. Acabava ali a discussão.



O Almirante Paulo Moreira foi precursor em várias ações e estudos oceanográficos, além de ser um intelectual carioca, que merecia mais lembrança na história do Brasil. Uma de suas contribuições foi traduzir "O Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, exatamente nesta máquina de datilografia que ilustra este artigo. Esta máquina foi utilizada também pelo cronista Rubem Braga de quem Paulo Moreira era amigo confidente. E estas mãos a datilografar nesta máquina da imagem são deste autor, que doou a relíquia ao Museu Naval da Marinha Brasileira, antes de radicar-se na terra de Fernando Pessoa, Camões e Gil Vicente, aliás este o criador do teatro em Portugal, e nome de rua ao lado de oPONTO NEWS - H2BLUE, Café Peazê.



Produção deste vídeo por Cláudio Guerra - Chilicom

Créditos para Fernando Diehl, presidente da AOCEANAO e patrocínio

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