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Futebol na Ponta da Língua – Folha Seca

Foto do escritor: Luís PeazêLuís Peazê

 

Se Baudelaire fosse comentar um texto do Professor Medina, Fundador da Universidade do Futebol, diria que ele fumou um. Bem, mas estaria absolvido pelo erro (ortográfico ou de percepção) ao escrever bela crônica no website da UdF, comentando as declarações hilárias para a imprensa da maioria dos jogadores de futebol. Como aquela: - “agradeço a caixa de Brahma que a Antártica me enviou” – embora hoje em dia não fosse necessariamente um erro. Quem ouviu ouviu.


Baudelaire, enroscando no meio de campo, sacou essa: que os poetas e loucos teriam uma inteligência “sinestésica”, são capazes de associar voz com cheiro, cores com formatos, ouvirem uma música e ficarem bêbados. Pois o Prof. Medina trocou o “c” pelo “s” e cravou esta inteligência aos nossos garotos da bola. É cinestésica, Professor. Tudo bem, bola pra frente, porque muitos boleiros têm também a do Baudelaire e esta com “c” que fazem com que eles, por exemplo, decidam em fração de segundos dar um bico ou um folha seca, sim, no masculino, até prova em contrário.


Folha Seca? A bola vem em diagonal do meio de campo e chega no bico da grande área; o zagueiro paredão abre os braços e fecha tudo mas Didi dá uma cava pra dentro mordendo ela com carinho e o corpo torce sobre o próprio eixo, o braço direito levanta o cotovelo para trás, o esquerdo esticado para frente em exatos 295 graus, e agora? Aí a única alternativa é dar uma tacada nela com os três dedos de fora, se possível acertá-la no ventil, do meio para a esquerda e o segredo está em bater firme, com força J ao quadrado, um coice seco mas com arte sem deixar a perna ir em frente, ela faz um semi-círculo secante ao ventre, enquanto isso a redonda sobe feito uma bala e começa a descer como um véu, ou uma "folha seca" caindo delicadamente na casinha de joão de barro. Isso só é possível com inteligência cinestésica. Didi, o príncipe poeta, inventou este chute e até hoje a NASA estuda a simetria das forças empregadas no disparo.


Esse estudo comprovará que o Futebol Arte foi inventado no Brasil, que reúne minas insuperáveis de “inteligência cinestésica e sinestésica”. Que vem a ser – a primeira – capacidade de auto coordenação, quase inconsciente, de movimentos milimétricos de nervos, ligamentos, músculos e membros independentemente de pensamentos e apenas movidos pelo desejo de adequação (e solução) com os desenhos que a bola, por exemplo, faz em movimentos livres no ar. A segunda, é a do Baudelaire. História: após o esporte mais popular, contagiante e multitudinário do mundo aparecer na Inglaterra, inicialmente jogado com a cabeça de inimigos derrotados, evolui para uma bola de couro, com 12, 24 ou 32 gomos octogonais, e chega à Pelotas. Isso mesmo, o primeiro time de futebol brasileiro nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul. Papo para outra crônica. Assim, do Chuí se espraiou até o Oiapoque e o brasileiro nunca  mais foi o mesmo. Isto é, do batuque na cozinha inventou outra música e remeleixo, o Samba e o Carnaval; o café sem graça, enquanto franceses e italianos brigavam para ver quem extraia melhor, aterrissou de 14 Bis no Pão de Açúcar e subiu a serra da mantiqueira. Mas dizem as más línguas que seus primeiros grãos foram maliciosamente colhidos do soutien de uma senhora francesa, Madame D´Orvilliers, esposa do mandatário da Guiana de Luís XV, por um tal de Palheta, e até hoje o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo (embora o pior café fique aqui nos nossos supermercados, o melhor vai “pra lá”, baixo astral para outra hora); ponto final, café, samba e futebol são ícones brasileiros inigualáveis, ok? O quê? Cachaça também? Ferro, na boneca, Pau, que dá em doido, minérios uai, grãos e tudo que se planta. Bah!

Imagem de Rodrigo Ferrari extraida da reportagem do JB https://www.jb.com.br/rio/2019/01/973713-folha-seca--a-mais-carioca-das-livrarias--chega-aos-21-anos-de-idade--15-de-rua-do-ouvidor--com-festa--samba-e-livros.html   
Imagem de Rodrigo Ferrari extraída de reportagem online do JB

 

Agora, se o caro leitor achou muito complicado esta tabelinha aqui do cronista, passe na Livraria e Edições Folha Seca, Rua do Ouvidor, 37, especializada em “temas cariocas”, quer dizer, universais; de futebol a música e carnaval, história gente! Frequentada por facções de todas as cores, de um pobre Peazê a um Rui Castro. Por falar em nomes, neste último sábado, sábado é dia especial na Livraria Folha Seca, passei quase por acaso por lá com a Nega Véia, e depois de uma ou duas décadas quem eu vejo? O Rodrigo, Ferrari! Inventor da Folha Seca (esta sim no feminino). - Que energia, que doce de gente, somos amigos por osmose, dessas sinergias inexplicáveis, coisas do mundo da bola. E ele foi logo me apresentando uma pérola de gente fina, o incendiário Sergio Pugliese, pai biológico, pois há várias pater-mater-nidades adotivas atualmente, do Museu da Pelada. É mole?


Antes de finalizar, ajoelhe-mo-nos, para rezar. Perguntei ao Rodrigo por outro boleiro das letras, amigo comum, professor e patrimônio cultural do Rio, guardião das chaves do Sacrário das Carmelitas, rainhas do Carnaval e das curvas de Santa Teresa, nosso amigo Alvanisio Damasceno. - Vai bem obrigado, preguiçoso mas está convocado para um chazinho na Folha Seca. Saravá! 


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Luís Peazê, mentiroso e preguiçoso, jornalista, escritor, velejador e tradutor de Por Quem os Sinos Dobram, de Ernest Hemingway. www.luispeaze.com/livros  




 


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