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Foto do escritorLuís Peazê

EXCLUSIVO REUTERS: Geleiras não só dos Alpes derretem em níveis alarmantes.

Atualizado: 12 de ago. de 2022


A neve da última temporada de inverno está coberta com cobertores em uma encosta ao lado da estação superior de um teleférico na área de esqui de Diavolezza, perto da estância alpina de Pontresina, Suíça, 21 de julho de 2022. REUTERS/Arnd Wiegmann

GELEIRA MORTERATSCH, Suíça, 26 de julho (Reuters) - A perda de gelo excepcionalmente alta este ano, levou o glaciologista Andreas Linsbauer (45 anos), a saltar com seus 10kg de aço em equipamentos, dois meses antes do usual, quando somente em setembro ele percorre 15 m2 de gelo (5,8 milhas quadradas) para trabalhos de manutenção de emergência, nos Alpes suiços, Morteratsch.


Os postes de medição que Andreas utiliza, para rastrear mudanças na profundidade da área medida, correm risco de se desalojarem completamente, à medida que o gelo derrete, e demandam novas instalações.

As geleiras dos Alpes perdem massa à taxa record nos últimos 60 anos. Segundo dados compartilhados exclusivamente com a Reuters. Comparando a diferença entre o quanto de neve cai no inverno com o degelo no verão, os cientistas podem medir o encolhimento das geleiras num dado ano.


Desde o último inverno, quando caiu relativamente pouca neve, os Alpes enfrentaram duas grandes ondas de calor – uma em Julho com temperaturas próximas de 30 graus Celsius (86 graus Fahrenheit) na vila de montanha suiça de Zermatt.


Durante essa onda de calor, a elevação na qual a água congelou foi medida em um record de 5.184 metros (17.000 pés) – a uma altitude maior que a do Mont Blanc – em comparação com o nível normal de verão entre 3.000-3.500 metros (9.800-11.500 pés) “É óbvio que esta é uma temporada extrema”, diz Andreas, gritando por cima do rugido da água de degelo enquanto verificava a altura de um poste que se projetava do gelo – durante a reportagem da Reuters.


DERRETIMENTO DA MONTANHA

A maioria das geleiras de montanha do mundo – remanescentes da última era glacial – está recuando devido às mudanças climáticas. Mas essas dos Alpes europeus são especialmente vulneráveis por serem menores, com relativamente pouca cobertura de gelo. As temperaturas nos Alpes aumentam em torno de 0,3°C por década – cerca de duas vezes mais rápido que a média global.


Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem a aumentar, espera-se que as geleiras dos Alpes percam mais de 80% de sua massa atual até 2100. Muitas desaparecerão, independentemente de qualquer ação de emissões que seja tomada agora, devido ao aquecimento global causado por emissões passadas, de acordo com um relatório de 2019 do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.


Glaciologist Andreas Linsbauer e assistente Andrea Millhaeusler

Morteratsch já está muito diferente da geleira retratada nos mapas turísticos da região. A longa língua, que chegou às profundezas do vale, encolheu quase 3 quilômetros (2 milhas), enquanto a profundidade da neve e do bloco de gelo diminuiu em até 200 metros (656 pés). Uma geleira paralela, a Pers, fluiu até 2017, mas agora recuou tanto que uma faixa de areia fica entre elas.


A dramática situação deste ano aumenta a preocupação de que as geleiras dos Alpes possam desaparecer mais cedo do que o esperado. A repetirem anos como 2022, isso pode acontecer, disse Matthias Huss, que lidera o Monitoramente de Geleiras da Suiça.


“Estamos vendo que os resultados esperados, do modelo, décadas no futuro acontecem agora”, disse Matthias. - “Eu não esperava ver um ano tão extremo tão cedo neste século.”


SEM NEVE, O CALOR É MAIS ALTO

A Reuters conversou com glaciologistas na Áustria, França e Itália, e eles confirmaram que as geleiras estavam a caminho record de perdas. Na Áustria, “as geleiras não têm neve até os cumes”, disse Andrea Fischer, glaciologista da Academia Austríaca de Ciências.


Geleiras derretendo nos Alpes, Suiça


A queda de neve sazonal, além de reabastecer o gelo perdido durante o verão, protege as geleiras do derretimento adicional, fornecendo uma cobertura branca que reflete a luz solar de volta à atmosfera melhor do que o gelo mais escuro pode fazer – manchado por poeira ou poluição.


Mas na geleira Grand Etret, no noroeste da Itália, apenas 1,3 metros (4,2 pés) de neve se acumularam durante o inverno passado – 2 metros (6,6 pés) a menos que a média anual dos 20 anos até 2020.


As perdas de gelo alpino deste ano, registradas até antes do mês de maior derretimento, agosto, surpreenderam os cientistas, já que muitas das geleiras já haviam perdido seus bocais mais baixos. Por terem recuado montanha acima, onde as temperaturas são mais baixas, os cientistas pensaram que deveriam ter sido mais bem protegidas.


“Você pode facilmente imaginar que os resultados finais após o verão serão `… extensa perda de cobertura de geleiras` nos Alpes italianos”, disse Marco Giardino, vice-presidente do Comitê Glaciológico Italiano.


Dados compartilhados exclusivamente com a Reuters mostram que Morteratsch agora está perdendo cerca de 5 centímetros (2 polegadas) por dia e já está em um estado pior do que normalmente estaria no final de um verão médio, de acordo com dados da GLAMOS e da Universite libre de Bruxelas.


A vizinha Geleira Silvretta perdeu cerca de 1 metro (3,3 pés) a mais do que no mesmo ponto em 1947 – o pior ano em seu banco de dados que remonta a 1915.


DEGELO DO HIMALAIA

As geleiras do Himalaia também estão a caminho de um ano record de perda de gelo, disseram cientistas à Reuters. Quando a temporada de monções de verão chegou à região da Caxemira, por exemplo, muitas geleiras já haviam diminuído drasticamente, com suas linhas de neve começando no alto da montanha, após uma onda de calor de março a maio marcada por temperaturas acima de 48C (118F) no norte da Índia.


Uma expedição no início de junho em Himachal Pradesh, na Índia, verificou que a geleira Chhota Shigri havia perdido grande parte de sua cobertura de neve. “A temperatura mais alta em mais de um século, de março a maio, claramente teve seus impactos”, disse o glaciologista Mohd Farooq Azam, do Instituto Indiano de Tecnologia Indore.


PERDER O ‘PATRIMÓNIO NACIONAL’

O desaparecimento de geleiras já está colocando em risco vidas e meios de subsistência. No início deste mês, um colapso de geleira no Marmolada, na Itália, matou 11 pessoas. Dias depois, uma geleira em colapso nas montanhas Tian Shan, no leste do Quirguistão, desencadeou uma enorme avalanche, atirando gelo e rochas em direção aos turistas.


Acima da vila suíça de Saas Fee, um caminho que levava a uma cabana na montanha passava por um campo de neve de verão no topo da geleira Chessjen.


“É muito perigoso agora”, devido ao risco de queda de rochas, antes mantidas juntas pelo gelo congelado, disse o guardião Dario Andenmatten enquanto observava uma paisagem árida pontilhada de lagos glaciais. Perto, o estrondo de pedras caindo da montanha podia ser ouvido.


Os residentes suíços temem que as perdas das geleiras prejudiquem sua economia. Algumas estações de esqui da região dos Alpes, que dependem dessas geleiras, agora as cobrem com lençóis brancos para refletir a luz do sol e reduzir o derretimento.


As geleiras suíças aparecem em muitos dos contos de fadas do país, e a Geleira Aletsch é considerada Patrimônio Mundial da UNESCO. Perder as geleiras “significa perder nossa herança nacional, nossa identidade”, disse o caminhante Bernardin Chavaillaz. “É triste.”


Reporting by Emma Farge and Gloria Dickie; Additional reporting by Michael Shields; Editing by Katy Daigle and Lisa Shumaker


NOTA oPONTO NEWS - H2BLUE

Um projeto colaborativo de perfuração de gelo entre Rússia, Estados Unidos e França na estação Vostok rendeu o núcleo de gelo mais profundo já recuperado, atingindo uma profundidade de 3.623 metros. O projeto está no momento suspenso...

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