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  • Foto do escritorLuís Peazê

Diversidade das línguas indígenas do Brasil na Olimpíada Internacional de Linguística - Poucos ouviram, leram!

Atualizado: 3 de ago.


A imagem desta artesã da Aldeia Guarani Mbya, Guyra Nhandu (Som dos Pássaros), de Maquiné, RS, flutuando no ar com um de seus três filhos, ninguém tinha visto até agora. Foi montada por este observador a partir de uma foto da Guarani Mbya Cláudia Morinico, sentada numa esteira na grama em sua aldeia, exibindo seus artesanatos à venda.


Enquanto o mundo é atraído pelos Jogos Olímpicos de Paris 2024, espetacularizados e sempre repletos de conqueluches polemizadas, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) promoveu, na última semana de julho, na UNB em Brasília, uma série de oficinas de linguagem como parte da programação da XXI Olimpíada Internacional de Linguística (IOL). O evento ocorreu no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, e reuniu estudantes de trinta e nove países que integram a competição e foi organizado pelo Departamento de Línguas e Memórias Indígenas (DELING), da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART).


oPONTO NEWS by Luís Peazê inicia, neste mês de agôsto, apoio à artesã Cláudia Morinico, da Aldeia Guarani Mbya, Guyra Nhandu (Som dos Pássaros) que colaborou para a conclusão de O Punhal de Pedra ora em pré-lançamento. O romance toma como ponto de partida histórias ouvidas do avô do autor, e a cultura Guarani como fio condutor para uma visita em diversificados aspectos dos hábitos e costumes contemporâneos, mesmificados pelas novidades transientes e inibidoras da preservação de riquezas antropossociais, incluídas aí a tekologia.


O Punhal de Pedra utiliza a imagem de um punhal de pedra construído pelo autor, a partir de uma pedra do som, um fenólito raro, adornado com tiras de embira. Cláudia colheu da mata em Tôrres, RS, com exclusividade para Peazê, tiras frescas de embira e as enviou para o Rio de Janeiro nesta semana.


Foram utilizados recursos gerados por este site de Opinião & Notícias para adquirir a embira e algumas peças de artesanato de Cláudia Morinico, assim como o site manterá ativa uma página (em breve) exclusiva para a artesã, com a expectativa de incentivar leitores e visitantes ocasionais comprarem peças desse artesanato Guarani autêntico e, assim, somarem-se ao suporte de subsistência de membros daquela Aldeia Guarani. Informações adicionais podem ser obtidas através de contato direto com o autor, por este site. Como arrancada do apoio, serão designados para a família de Cláudia Morinico 10% de cada Vale Presente adquirido aqui, consulte neste link.



Vários atores sociais ligados direta ou indiretamente à cultura Guarani tem sido contactados, incluindo estudiosos acadêmicos de norte a sul do país, e o primo irmão de Cláudia Morinico, importante liderança indígena na Região Metropolitana de Porto Alegre, José Cirilo Morinico, cacique da Tekoá Anhetenguá (Lomba do Pinheiro, Porto Alegre/RS), Cacique Geral no Estado, Presidente da Associação Mbyá-Guarani (AMG) e conselheiro do Conselho Estadual dos Povos Indígenas.


Cirilo nasceu na aldeia de Salto Tavaí, em Porto Leone, Província de Misiones, Argentina, cenário real visitado pelo autor ao retornar de sua travessia de veleiro na Austrália, história auto-biográfica narrada em Alvídia – Um Horizonte a Mais, quando teve a ideia de O Punhal de Pedra, publicado experimentalmente em 50 exemplares, naquele ano, 2000, e agora reeditado após pesquisa meticulosa para contextualização sobre o espírito Guarani.


Em O Punhal de Pedra um personagem acredita que as aldeias Guarani e provavelmente de outras etnias desaparecerão, num futuro qualquer, porque é plausivamente impossível imaginar o mundo retroagir aos modos originais de habitats, usos e costumes. Aquele personagem também acredita que, se as Aldeias persistirem viver como vivem hoje, é porque o espírito Guarani poderá sofrer tanto que morrerá num futuro próximo, uma tragédia. Entretanto, se as Aldeias desaparecerem porque houve melhoria de vida e respeito humano para seus membros, é porque também houve sucesso do esforço para que o Espírito Guarani permaneça perpétuo.

 
 

Altaci Kokama, coordenadora-geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas do MPI, relatou que a organização do evento procurou o MPI como parceiro para a ação em maio deste ano. Ela ressaltou que a pasta, ao fazer parte das Olimpíadas, mostra como o Brasil é diverso com as línguas indígenas que povoam o país, o que contribui para que os estudantes tenham uma compreensão maior da realidade que os cerca.


Altaci apresentou uma palestra sobre a concepção de língua sob a perspectiva dos povos indígenas do Brasil, algo que ela denominou como "língua espírito" e que destoa do modo como o Ocidente categoriza e analisa os 274 idiomas indígenas do Brasil. Em seguida, realizou uma oficina sobre como retomar e revitalizar uma língua indígena com materiais e jogos.


"A língua espírito é a falada pelos povos indígenas do Brasil. Ela é repassada pelos ancestrais aos indígenas e está no barulho do vento, no estalar dos galhos das árvores, no som das cachoeiras, dos rios, no canto dos pássaros. Esses sons são vistos dentro das línguas porque ela é, em si, um espírito e por isso não morre. Está sempre à disposição para que, quando ela adormecer, o povo possa acordá-la por meio de rituais, como está acontecendo no Nordeste do Brasil", disse a coordenadora.


Já Karina Kambeba, integrante do Grupo de Trabalho Nacional de Línguas Indígenas da Unesco, trouxe uma oficina sobre grafismos indígenas como manifestação linguística. Ela estimulou os estudantes estrangeiros a criar símbolos, com significados próprios, no corpo de colegas porque a cultura dos Kambeba, que habitam o oeste do Amazonas, na região do Alto Rio Solimões, usa grafismos para se referir desde fenômenos da natureza ao status social de uma pessoa.


"Todo grafismo traz significado e eram usados como indicativo de cheias de rios e vazantes, assim como onde havia alimento ou para demonstrar quem era casado e quais cerimônias seriam feitas sem precisar falar", descreveu. "Todo grafismo nasce de um querer, de um motivo. Propus a eles que criassem grafismo iluminados pelas suas ancestralidades."


I​nstituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) visa promover os direitos dos povos indígenas. A ação também está alinhada ao cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 16, que busca ampliar o acesso público à informação, proteger liberdades fundamentais e garantir a igualdade de acesso à justiça para todos.



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1 Comment


Helga
Helga
Aug 01

👏👏👏❤️

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