Pessoas & Palavras foi ouvir o Coordenador para os Assuntos do Mar da Câmara de Lisboa e, a partir de agora, será uma das colunas da Conversa no Pier. Seus artigos são publicados na mídia impressa e online de Portugal. Abilio M. Ferreira coordena ações práticas e projetos voltados para a Lisboa Verde e tudo o que diz respeito à Economia Azul de Lisboa, desde iniciativas criativas e infra estrutura, aeventos de grande dimensão e demandas diversas, uma posição que exige conhecimento e experiência; com o autor a palavra:
"Apesar de os indicadores enunciarem uma preocupante desaceleração do crescimento da atividade marítima, há condições, desde que sejam implementadas ações de política pública abrangentes, transversais, consequentes e dotadas de meios para reverter a situação"
A 10 edição da conferência do “LEME - Barómetro PwC da Economia do Mar”, uma organização exemplar, potenciou uma abordagem e análise holística dos mares e Oceano, e culminou com um concerto da Banda da Armada, de magnífico registo.
Infelizmente, as noticias não foram animadoras, com base na análise dos dados recolhidos em 2018 os indicadores demonstraram que o “Mar português” desacelerou, e que a economia do mar no mundo global continua a acelerar, e muito, esta novidade que a muitos dos atores do mar certamente não surpreende, deixa no entanto apreensão e preocupação, pois os indicadores de desempenho do ano de 2019 não pronunciam ainda uma viragem nos resultados, deixando a sensação que o “Mar português” pode perder a oportunidade de se continuar a reafirmar e ser uma garantia de uma política pública estratégica no desenvolvimento do conhecimento económico e social do país.
E de facto, analisando o conjunto de ações de política pública do mar encetadas no ano transacto poucas parecem ter revelado importância para inverter este processo, permitindo afirmar com segurança, infelizmente, e com alguma apreensão que os resultados divulgados nesta conferência não serão provavelmente transitórios.
Por outro lado, as mudanças entretanto ocorridas na gestão da política pública do mar também não pronunciam, até ao momento, sinais encorajadores onde se vislumbrem a existência de ações de valorização, fortalecimento, concertação, cooperação e promoção no investimento e apoio a projetos / ações que dinamizem o crescimento do conhecimento (educação, investigação e inovação) e da atividade económica marítima tradicional (Shipping, portos e serviços, construção e reparação naval, pescas aquacultura in e offshore) e emergente (biotecnologia, robótica, inteligência artificial e automação, energias renováveis e offshore, fundos oceânicos) de forma a garantir ao “Mar português” uma afirmação plena do seu potencial e oferecer a Portugal uma via alternativa para um crescimento e desenvolvimento sustentável agregado ao seu ADN natural histórico e cultural marítimo e de interculturalidade que lhe permitiu edificar o mundo global da lusofonia.
Apesar de tudo a atividade do “Mar português” ainda regista alguns sinais de resiliência e crescimento, resultantes em grande parte da determinação, vontade e dinâmica do tecido empresarial, académico e social, exemplo disso são:
O crescimento, ainda que ligeiro, da produção na aquacultura, captura de pescado e da indústria de transformação do pescado, apesar de continuarmos a não conseguir produzir ou pescar para suprir as necessidades de consumo dos portugueses, somente produzimos e capturamos 45% a 50% das necessidades, deveria determinar a nossa ação no facilitar, reforçar e incentivar o apoio à investigação e ao trabalho dos nossos empreendedores e empresas, o qual consequentemente ajudará a consolidar o pescado do “Mar português.
O crescimento do registo de navios na Madeira, facto que reafirma a existência de óptimas condições para virmos a ser um centro internacional de shipping, pelo que importa continuar a dar passos seguros no convencimento das empresas internacionais do setor a sedearem-se no país, tanto mais que a transversalidade desta atividade é uma oportunidade, que pode potenciar crescimento de outros setores e subsetores económicos como sejam o turismo, agricultura, metalomecânica, finança e seguros, construção e reparação naval, etc.
Com sólidas ações de política pública, vontade, determinação, orientação estratégica estruturada, o “Mar português” certamente romperá este ciclo negativo, recentrando a sua navegação rumo ao sucesso, importa potenciar, articular e agregar, não deixando de fora nenhum dos seus diferentes subsetores - construção/reparação naval, transportes marítimos, portos, logística e expedição, pesca, aquacultura e indústria do pescado, turismo, energia offshore, fundos oceânicos, biotecnologia e industria e serviços 4.0 - e certamente o ano de 2020 pode representar uma viragem virtuosa e dinâmica.