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Luís Peazê

Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, na menarca, a mais jovem de todas as Nossas Senhoras


Imagem clicada pelo velejador Luis Pinho, do cais de pedra de Vila Franca de Xira (junho de 2019)

Em 2012 Nasceu a Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, portanto hoje completando sete aninhos de idade, esta imagem da Virgem Maria em plena menarca brotou a Nossa Senhora dos Avieiros nas margens do Tejo milenar de muitas lendas e histórias de disputas, conquistas e, principalmente, sobrevivência das comunidades piscatórias e de toda a gente ribeirinha, os avieiros. Por vezes soltando as amarras desde a fronteira com a Espanha, nascente do rio, é em Vila Franca de Xira, nas últimas gotas d´água em que o Tejo se veste com o sal dos oceanos que invadem Lisboa.

No silêncio da tarde, quando o pôr do sol ibérico que se abate em torno das vinte horas da primavera, uma lua quase totalmente cheia pendurada no céu, lá vem os varinos cruzando por debaixo da Ponte de Carmona, seguidos por barcos comuns de pesca, todos decorados com ramos verdes e bandeirinhas ingênuas de São João. Ao leme vão os homens, com camisa de algodão e calças de pano cru, barrete à cabeça, saudosos cortejando o Tejo, feminino, de onde ao longo do ano lhes dá de comer, e dizem alguns a razão de viver ou por algo que podem dar a vida.

Mas são as varinas as homenageadas e parece mesmo que cada uma sente-se num pedestal tal e qual a Nossa Senhora que viaja no barco varino mais enfeitado com a imagem da santa impecavelmente cuidada e à vista. As varinas são figuras típicas de Lisboa. De canastra à cabeça percorriam os bairros lisboetas vendendo, de porta em porta, o fruto do mar. Blusa de algodão feitas à mão, obviamente, saia cheia e comprida semi coberta por um avental de riscado, e, o ventre protegido com uma faixa de fazenda em voltas das ancas pois, quando grávidas, era preciso continuar na labuta, tal como um lenço de lã, o chapéu de feltro de aba pequena revirada para cima, de forma a aparar os pingos de chuva, ou orvalho, que porventura caíssem da canastra. E os pés, os pés da varinas eram descalços e isso talvez diga tudo...

Privilégio, testemunhar a procissão de Nossa Senhora dos Aveiros e do Tejo, assim batizada em 2012 pelos curadores desta tradição secular, este observador grato escreve enquanto a procissão passa diante dos olhos às margens do Tejo em Vila Franca de Xira.

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