Marllamé disse que o mundo foi feito para acabar num livro. Mas Quintiliano já havia dito, séculos antes, que a história não é para ser vivida, é para ser escrita. Bem mais adiante, no Café de Flore, em Paris, Hemingway cunhara: “para escrever sobre a vida, você deve primeiro vivê-la”, enquanto Sartre, também frequentador daquele ninho de existencialistas, após entregar ao editor O Ser e o Nada, dissera, em “O Que é Literatura”, livrinho de cabeceira para muitos carpinteiros das letras, que o texto literário só se completa após ser lido, o escritor dever deixar espaço para o leitor completar o que foi escrito, em sua imaginação.
Durante 19 dias Lisboa vai reverberar letras, de literatura de todos os gêneros e matizes a livros didáticos e destes a infantis, com a promessa de ser a maior Feira do Livro de Lisboa (FLL) de todos os tempos, segundo a vontade da APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e da Câmara Municipal de Lisboa, responsáveis pelo evento. Mais pavilhões, mais expositores, mais marcas editorias, mais eventos e mais novidades. Certamente terá mais público, pelo esforço dos organizadores e parceiros.
Este carpinteiro das letras foi lá no Parque Eduardo VII, local da Feira, conferir tudo isso e não resistiu ao contágio, arregaçou as mangas, multiplicou-se, invadido por uma nostalgia curiosa. A minha Pássargada, não a antiga capital do Império Persa, aludida simbolicamente no poema de Manuel Bandeira, mas a Passárgada dos meus tios e primos, do meu pai e os amigos engraxates da Praça da Alfândega, berço da Feira do Livro mais charmosa da América Latina, em Porto Alegre, vestida de Jacarandá dos pés à cabeça, tal e qual esse parque da Feira do Livro de Lisboa. Muito semelhante as duas feiras, em formato de funcionamento e sensualidade literária indizível.
O modelo em Lisboa, neste capítulo de 2019, é ambicioso. Além de mais números, para arrancar os cabelos dos editores de jornais que gostam de economizar linhas, a FLL escreve em seu programa em letras garrafais que será mais sustentável e mais acessível. A The Navigator Company, parceiro para a sustentabilidade, vai distribuir 60 mil sacos de papel promovendo-o como um suporte natural, renovável, reciclável e biodegradável. A Santa Casa de Misericórdia doou dez cadeiras de rodas e cinco andarilhos, para colaborar na acessibilidade. Mas isso está longe de esgotar os apelos para seduzir visitantes à Feira, quem estiver em Lisboa e cercanias nas próximas duas semanas.
Sem desculpa, leve seu bichinho de estimação, haverá bebedouros especiais para eles; mantenha a calma, haverá carregadores de bateria para smartphones, wi-fi livre e lugar para guardar bicicletas, tudo de graça. Relaxe, a programação de entretenimento, além das mais ligadas aos livros propriamente ditas, palestras, tardes e noites de autógrafos, conversa com escritores e o Dia da Criança, com a Maratona de Contos, inclui no cardápio o desafio digital de chefs gourmets e shows de música.
Ah, você já está cheio de livros em casa. Então participe da campanha “Doe os seus Livros”, uma iniciativa da APEL e do Banco de Bens Doados (BBD). Os livros são encaminhados para as crianças apoiadas por Instituições que integram a rede do BBD..
Ok, você é daqueles pessimistas incorrigíveis então tome: a “Hora H”. É a última hora da feira a cada dia, entre as 21;00h e 22:00h, quando livros a rodo são vendidos com 50% de desconto. É ou não um epílogo diário tal e qual o final de Perfume, quando Jean-Batiste Grenouille despeja sobre si o perfume do amor e é devorado, lhe comem inteiro, ensandecidos em praça pública?
Mãos a obra.
Abertura oficial: 29/05 12:30h Cerimónia de Inauguração
Funcionamento: segunda e quinta-feira – das 12h30 às 22h00;
sextas-feiras e vésperas de feriado – das 12h30 às 00h00;
sábados – das 11h00 às 00h00;
domingos e feriados – das 11h00 às 22h00.