Que coisa: frequentemente me perguntam o que é o BitCoin, a BlockChain e Internet das Coisas. Mas toda vez que respondo, fico um pouco frustrado, com a impressão de que não fui entendido. Daí produzir este texto, oportunamente quando uma das maiores, se não a maior instituição financeira do mundo, volta atrás e adere às moedas binárias criptografadas; na pessoa de Jamie Dimon, Presidente e CEO do JPMorgan, é divulgado aos quatro ventos que o bitcoin não é uma fraude, com suas próprias palavras recentemente, entre outras agressões à moedinha e seu ambiente. Enfim, “pessoas” e “palavras”, era uma vez a eterna potencialidade dicotômica entre esses dois significantes e significados. Finalmente, entramos na era dos números, bem no início, onde só vale o “0” e o “1”.
Enquanto os novos empreendedores (novos mesmo, de idade e tudo) geram uma panaceia de aplicações disruptivas, onde milhares desses novos “softwares” nascem diariamente, muitos natimortos, outros tão vigorosos a ponto de sacudir o mundo, literalmente, e as bolsas de valores, valores ético-morais e princípios incluídos, o dinheiro como nós o conhecemos não é mais a “moeda” da vez, para usar uma expressão ambivalente. A partir de hoje, o BitCoin é o “cara”, se é assim que o JPMorgan quer, que assim o seja. Mas vamos ver se é isso mesmo:
Primeiro, a velha moeda bitcoin, de uma década atrás, vem sendo guardada e veicula através desse nome feio conhecido como “blockchain”, por sua vez uma série de códigos de linguagem de computador que “mascara”, no sentido de esconder, e ao mesmo tempo “revela” o seu proprietário, de modo que nem um nem outro possam ser tocados, mudados, alterados, burlados. Isto é, se eu lhe dou um bitcoin, este bitcoin chega até você protegido pela blockchain, você não pode alterá-lo nem mesmo sabe dizer que é meu ou de quem seja, mas o possui, por algum tempo até que o repasse para alguém mais. Entendeu? É por isso que fico frustrado, quando explico. Por outro lado, se eu quiser vender bitcoin a você eu explico de modo claro. Quer ver? Para começar trata-se de uma moeda que não está controlada por nenhum governo, nenhum país e nenhum banco. Oba! Aí eu lhe digo: é segura, porque há uma codificação (criptografada, eu explico mais adiante o que é isto, embora o termo nos remeta à Grécia antiga, então você poderia já conhecê-lo) que singulariza, atribui um registro único, cada “bit” que eu lhe vender, ou utilizar para lhe pagar por algo. – Mas segura como? – você pergunta. – Segura porque esta moeda, digo, este “bit” que vale como dinheiro vivo, circula, trafega, viaja, na Internet e por onde ele andar aquela codificação criptografada o acompanhará, é uma linguagem que cria automaticamente um “código” único, uma identidade para cada unidade de dinheiro, de “bitcoin”. Ninguém tem acesso a esta criptografia a ponto de poder modificá-la. Você então aceita que é segura e começa a acreditar nela. Mas precisa saber se essa moeda vale o quanto pesa e, se houver algum problema, por mais segura que ela seja, aonde e a quem reclamar. Bem, ainda isto não está bem resolvido no mundo, mas aí eu utilizo a palavra “risco” para lhe aguçar o instinto de aventura e você tem o impulso final de aderir de vez; ou ficará acompanhando a coisa até dar o seu pulo também, como milhares de pessoas já deram. Algumas já caíram no meio do caminho, outras continuam flutuando, voando alto até, subindo, intercambiando e lucrando com o bitcoin, acredite, é tudo verdade. Assim como é verdade que devemos continuar acompanhando o progresso das coisas.
Lembro a quem não saiba que, é dito que um certo japonês que ninguém no mundo garante que existe ou existiu um dia, mas lhe é atribuído um nome, Satoshi Nakamoto, criou a blockchain, que deu origem ao bitcoin. Ele teria criado essa codificação inicial criptografada, que protegeria cada bit que circula na grande “wide world web” (WWW) via Internet, daí a criação da moeda binária foi um acidente natural. Ah, desculpa, um bit, para quem não sabe, é a menor unidade de informação transmitida e ou armazenada por um computador. É bit porque vem de binário, e é binário porque transporta apenas dois valores, “0” ou “1”, sendo portanto necessário um conjunto de bits para se criar uma informação mais complexa do que apenas os valores mínimos da coisa. Assim, por convenção no mundo da computação, o menor conjunto de bits que pode ser traduzido em informação é o “byte”, um conjunto de oito bits (não quero complicar mais, mas na verdade há um nono bit nesse conjunto, para informar um sinal de negativo ou positivo). Pois aquele japonês, real ou hipotético, teria criado um poderoso sistema de códigos para proteger a informação que trafega na Internet e acabou dando a luz a uma moeda potencialmente poderosa. Talvez não seja por acaso que o Japão é a segunda “economia bitcoin” do mundo, e é o principal “hub” de discussão e negócios com bitcoin do planeta. Esses japoneses!
É verdade que a blockchain é utilizada cada vez mais no dia a dia para proteger inumeráveis diferentes tráfegos de informações, de dados, de registros computacionais, de transações e processos dos mais simples aos mais complexos, a cada dia surgem aplicações protegidas pela blockchain. Bom negócio, boa invenção, mas, como fizeram os Vendilhões do Templo, é a moeda, de valor monetário e financeiro, que se apropriou de sua aura como berço e lugar de depósito. Parte superior do formulário
Por fim, mas na verdade para explicar o começo deste artiguinho, como há muitas áreas cinzentas nesse negócio de bitcoin, o JPMorgan, com origem na indústria farmacêutica, inventou a sua própria bala mágica para salvar o capital no resto do mundo. Criou a sua própria bitcoin. E mais: codificou a sua própria blockchain. De modo que, neste novo sistema JPMorgan de moedas binárias, nenhum governo pode meter o dedo, controlar; nenhum outro banco pode interferir na sua compensação que não passe pelo núcleo central armazenado nos provedores do JPMorgan e a grande vantagem disso é que, a partir de agora, as transações financeiras de qualquer montante podem trafegar à velocidade da luz (cabos submarinhos ou satélites) de um computador para outro, de um laptop para outro, de um “mobile device” conectado à Internet a outro.
Não falta muito tempo até que de um fogão, ou geladeira, ou do volante de um automóvel (aqueles que ainda continuarão a usar veículos tripulados), um indivíduo poderá transacionar valores e bens utilizando bitcoins, protegido ou pelo JPMorgan, ou pelo velho adolescente mercado original de moedas binárias. Os riscos são os mesmos, a diferença é que o sistema JPMorgan, segundo seu CEO, no início de uma transação de compra da moeda bit, um montante de dólares é o pontapé inicial, depois ela toma corpo por si só, ou reforço de oxigênio por mais dólares e assim por diante; o outro bitcoin ainda conserva o seu modo revolucionário original, isto é: o investidor compra bitcoins com o dinheiro que pode e segue em frente acompanhando a coisa como qualquer outro investidor em ações o faz. Apenas ele não transaciona papéis, ou bônus, ele transaciona quantidades de “o” e “1” quantos mais melhor, quanto mais bytes mais rico, espaço de armazenamento nunca lhe faltará. Dizem que a energia (elétrica, termo, nuclear ou alternativa) é fabulosa e crucial, inclusive onera a moeda, mas isso ainda não está bem explicado, minha gente. Assim como muitas coisas no mundo.
Este observador assiste esse enredo de máscaras, desde 2008 quando, no ano seguinte criou a sua própria moeda também, o W3$ que pode ser vista aqui >>>
A propósito, a palavra “pessoa”, no teatro clássico, designava a máscara usada por um ator; já no Latim, a sua origem vem de “persona”, que é soar através; a coisa foi evoluindo para significados e significantes mais engessados à realidade do homem comum, adotada pelo arcabouço jurídico, no direito romano, por exemplo, para justificar “aquele que tem existência”, portanto passível de julgamento; daí para o contexto moral, não foi difícil; o próprio Cristianismo se apropriou da “palavra” “pessoa” para disseminar o significado de imortalidade, na consciência de seus atos e por aí afora, até Kant, na filosofia, simplificar dizendo que “pessoa” não é “coisa”. Seria, a partir de hoje, um bit?