Início da década de 1940, enquanto os alemães marchavam nas ruas de Oslo, os noruegueses olhavam aparentemente apáticos, intimamente sem querer acreditar que aquilo estava acontecendo. Um jornalista americano, equivocado, criticou a postura da Noruega, no episódio, como se o país estivesse aceitando a supremacia Alemã... O infeliz artigo contribuiu para que americanos e outros públicos não apoiassem os noruegueses, até que, corrigindo a má impressão daquela “fake news”, a bordo de um navio o Presidente Roosevelt fez um discurso, realçando os méritos da resistência norueguesa, marcado na história pela frase “Look to Norway”, Olhe para a Noruega!
A história rendeu um belo romance, contextualizado na ficção por uma vila de corajosos pescadores, que inspirou um clássico de Hollywood (Edge of Darkness, com Errol Flyinn & Ann Sheridan), assim como Casablanca, da mesma época e novamente os alemães em sua cota sórdida para o mundo, com Lisboa não por acaso servindo de elo neutro, ponto de discussão equacional. “Fast forward”, embarcamos no comboio do futuro e chegamos à IV Grande Conferência do Jornal da Economia do Mar, realizado exatamente na freguesia de Estoril (2018), onde conspiradores e a espionagem reuniam-se desenhando o mosaico entre aliados e o Eixo (II Grande Guerra).
Uma das conferências foi dada por Erik W. Jakobsen, sócio da MENON Economics, firma de consultoria sediada em Oslo, que abriga 40 economistas, com PhD e especialistas em política estratégica, economia e mercado. Ao introduzir o conferencista, Jorge D´Almeida, presidente da Comunidade Portuária de Sines, entregou-lhe o microfone com a pergunta: “Por que e como Portugal pode ser um Centro Internacional Marítimo?”
Quando Erik começou a mostrar números que realçam a alta combustão óbvia das cidades, dos grandes centros em especial, ao redor do mundo, lembrando a todos a característica intrínseca das metrópoles para reveberar modismos, produzir idéias, fomentar demandas de toda sorte e mobilizar pessoas, ao ouvi-lo não resisti intuir que mencionaria a Carta de Atenas (do manifesto urbanístico de 1933) e dados da virada do século que mostram 80% das populações do globo aglomerados em torno das cidades e próximos dos litorais. Mas Erik não remeteu a audiência ao passado, foi logo ao ponto, desfraldando slides com números inquestionáveis, provando que as cidades, e quais as cidades, com relevo para Singapure, Hamburg, Olso, Shanghai e London, fazem e como fazem a questão marítima um vetor econômico decisivo, de valores agregados transversais e que merecem uma visão estratégica de médio-longo prazo dos tomadores de decisão, nos níveis legislativo, executivo e dos setores privados.
The Leading Maritime Capitals of the World
Na verdade, Erik apresentou uma síntese das 21 páginas, resultado da terceira edição de um relatório bienal que destaca as 30 cidades marítimas ao redor do mundo líderes em quatro setores: shipping, financeiro e direito, tecnologia e portos & logística. O mesmo relatório ainda agrega uma análise das atrações e competitividade daquelas cidades. Desde 2015, Singapore aparece no topo das três cidades mais representativas, seguida por Hamburg e Oslo, demonstrando que não são necessariamente as grandes potências que determinam, no conjunto de fatores analisados, o protagonismo marítimo; esta terceira edição do trabalho ainda mostrou que o cenário não é imutável, em prazo tão curto (desde 2015), quando aparece a China ganhando terreno na indústria marítima internacional, Shangai subindo do quinto lugar para quarto, enquanto Hong Kong é ameaçada como “hub” marítimo por outras cidades da região.
O estudo demonstra que o setor de Shipping, Portos & Logística tem e continuará tendo um papel vital para as atividades produtivas internacionais com impacto nas questões trabalhistas. Ancorado na concepção de “global shift” da obra Economic Geography do economista inglês Peter Dicken (2010), o estudo da MENON afirma que por décadas a economia mundial vem tornando-se cada vez mais integrada. Neste caso a “global shift” revela-se em “integração de mercados”, forte crescimento do comércio internacional, investimentos diretos externos, surgimento de mais empresas transnacionais e incremento dramático da interdependência entre nações.
Assim, mesmo que o processo de globalização não parece ser uma linha contínua, como pareceu ser no passado recente, o mundo continuará a ser fortemente interdependente e unido pela navegação e atividades marítimas.
Apresentado no âmbito da IV Grande Conferência da Economia do Mar, não por acaso o “grito em uníssono” dos conferencistas (i.e. empresários e acadêmicos) mais audível foi justamente para este lado, o da colaboração transversal, da necessidade urgente de uma estratégia de médio-longo prazo para o território de Portugal, 97% marinho, as suas instalações portuárias, potencial para melhorias e conhecimento acumulado (histórico), tanto na pesquisa marinha quanto na navegação mesmo, sua posição geográfica e geo-política não apenas na Comunidade Européia, mas para as outras margens do Oceano Atlântico, uma porção de água e terra equivalente à metade do planeta. Tudo isso mostrado no contexto do estudo apresentado pelo norueguês Erick Jakobsen, portanto, “olhemos para Portugal”.
The Leading Maritime Capitals of the World
Language: English, Year: 2017 Author(s): Erik W. Jakobsen, Christian Svane Mellbye, Eirik Handegård Dyrstad, M. Sharin Osman